
Jesus de Nazaré: mito ou fato histórico?
Para os anticristãos ateitas, o supra sumo da sua existência seria o momento em que a ciência comprovaria que o “tal” Jesus nunca existiu de fato. Negar a existência de Jesus de Nazaré, como personagem histórico, é uma exigência para ser ateu. Eles preferem dar crédito a delirante teoria conspiratória de que no meio de um povo humilde e iletrado de Jerusalém foi elaborada uma tramoia espetacular onde se criou um personagem fictício para afrontar o judaísmo dominante que os próprios eram seguidores e elaborar as bases para o movimento denominado de Cristianismo. Essa fantasia teria o extremo poder de influenciar gerações e se tornar a maior religião do mundo até os tempos atuais. Essa conspiração foi tão poderosa que fez com que homens e mulheres entregassem suas vidas em defesa dessa fé, mesmo décadas depois da partida do seu mentor.
É interessante que os ateus que se dizem cientificistas, negam trabalhos produzidos por cientistas conceituados, principalmente historiadores, que demonstram verdadeiras as concepções de que Jesus foi de fato um personagem histórico real.
A certeza histórica da existência de Cristo nunca foi questionada com seriedade em 2 mil anos, pelo contrário, foi demonstrada por fatos e inúmeras fontes antigas, cristãs, judaicas e pagãs.
Muitos dos mais reconhecidos pesquisadores do mundo admitem a existência de Jesus como fato real e historicamente atestado, então, é exigido do pesquisador serio o comprometimento com essa verdade. Nas mais conceituadas universidades do mundo a existência do personagem histórico Jesus é ponto pacífico.
No entanto, os pseudo historiadores insistem (até mesmo sob a possibilidade de passarem ao ridículo) em dizer que Jesus de Nazaré não existiu de fato, ou que não haveriam provas de sua existência, tratando-se provavelmente de apenas um mito, indo contra a opinião dos mais importantes historiadores.
O argumento principal usado é o de que não há registros históricos de Jesus além dos Evangelhos.
De fato os registros são poucos, mas não são inexpressivos, muito pelo contrário. Porém há diversas razões para isso e nenhuma delas é de cunho religioso.
Primeiramente muitos dos documentos simplesmente não resistiram à ação do tempo. Também há o fato de que existiam poucos escribas que registraram a História daquela região da Palestina no tempo de Jesus. Não havia definitivamente interesse em narrar eventos de uma região tão pobre e inexpressiva (para os poderosos que podiam financiar tais trabalhos). Os romanos, que dominavam a região da Judeia, não os consideravam dignos de serem focos de registros históricos, pois, os tinham como um povo atrasado e insignificante.
O conceituado autor ateu Bart D. Ehrman, termina seu livro "Jesus existiu ou não?" (Nova Fronteira, 2014) dizendo
“(...) Jesus existiu, e as pessoas que negam abertamente esse fato o fazem não porque analisaram as evidências com o olhar desapaixonado de um historiador, mas porque essa negação está a serviço de alguma causa própria. Do ponto de vista imparcial, houve um Jesus de Nazaré”.
"Jesus o Bom Pastor", pintura do século II
No entanto, existem documentos extra bíblicos que nem podem ser considerados pouco, muito menos raros.
Muitos sobreviveram ao tempo e lhe fazem referências. Entre estes, os mais fidedignos são os de Justo de Tiberíades, Filon de Alexandria, Tácito, Suetônio e também Plínio, o Jovem, sem contar Flávio Josefo, outra fonte isenta e importante, que pode ser contestada na forma, mas não na autenticidade.
Os judeus foram os não cristãos que mais produziram registros sobre Jesus, por incrível que pareça, já que Jesus deveria ter recebido o desprezo dos historiadores judeus, por ser considerado um herege da fé judaica.
Flávio Josefo, que viveu até 98 dC, era um historiador judeu romanizado. Escreveu livros sobre a história dos judeus para o povo romano que figuram entre as principais referências daquele período histórico.
Em sua grande obra “Antiguidades Judaicas” faz referências a Jesus. Em uma delas, escreve:
“Por esse tempo apareceu Jesus, homem sábio que praticou boas obras e cujas virtudes eram reconhecidas. Muitos judeus e pessoas de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos o condenou a ser crucificado e morto. Porém, aqueles que se tornaram seus discípulos pregaram sua doutrina. Eles afirmam que Jesus apareceu a eles três dias após a sua crucificação e que está vivo. Talvez ele fosse o Messias previsto pelos misteriosos prognósticos dos profetas.” (Josefo, Antiguidades Judaicas XVIII, 3,2)
Em outras partes de sua obra, Josefo também registra a execução de João Batista (XVIII, 5,2) e o martírio de Tiago o Justo (XX, 9,1), referindo-se a este como “irmão de Jesus, que era chamado Cristo”. Devemos atentar para a frase “que era chamado Cristo”, ela reforça a veracidade do relato, já que, é de se esperar que um judeu como Josefo, assim designasse Jesus. Um cristão não utilizaria o verbo no passado, mas escreveria assim: "Jesus que é o Cristo".
No Talmude (um dos livros básicos de grande importância da religião judaica, contém a lei oral, a doutrina, a moral e as tradições dos judeus), existem referências ao personagem Jesus, todas apresentadas de forma agressiva e depreciativa e da mesma forma assim também trataram os Seus fiéis e a Sua Igreja. É lógico afirmar que nestes textos não houve nenhuma interferência de cristãos.
Além disso, o Talmude também registra os milagres de Jesus, não negando-os, mas, atribuindo-os a feitos mágicos se utilizando do esoterismo egípcio. Também a sua crucificação é datada como tendo ”ocorrido na véspera da Festa da Páscoa”, em plena concordância com os Evangelhos (Lc 22; Jo 19).
Lucas 22:1
"1 Estava, pois, perto a festa dos pães ázimos, chamada a páscoa."
"E era a preparação da páscoa, e quase à hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso Rei."
Ainda mais impressionante, e também de forma semelhante aos Evangelhos (Mt 27,51 “E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as pedras;”), o Talmude registra a ocorrência do terremoto e o véu do templo que se dividiu em dois durante a morte de Jesus. Mais uma vez, também Josefo (Guerra Judaica) confirma estes eventos.
Um dos raros documentos históricos do século I trás um testemunho através de uma carta (conservada no British Museum (manuscrito sírio n. 14658)), no qual certo Mara Bar-Serapion, sírio, então preso, dirige-se ao seu filho Serapion, pedindo-lhe que busque os caminhos da sabedoria. Após ter citado os nomes de Sócrates e Pitágoras, cita Cristo (Christus), dizendo dele: “Que vantagem tiveram os judeus, executando o seu rei sábio? Seu reino foi destruído pouco depois”. O sírio confirma indiretamente que Jesus era reconhecido como homem sábio e virtuoso, considerado por muitos como o rei de Israel, que foi executado e que sobreviveu nos ensinamentos dos seus discípulos.
Os romanos também escreveram sobre os cristãos e sobre Jesus. Plínio o Moço, procônsul na Ásia Menor, escreveu em uma carta dirigida ao imperador Trajano:
“…Os cristãos têm como hábito reunir-se em uma dia fixo, antes do nascer do sol, e dirigir palavras a Cristo como se este fosse um deus; eles mesmos fazem um juramento, de não cometer qualquer crime, nem cometer roubo ou saque, ou adultério, nem quebrar sua palavra, e nem negar um depósito quando exigido. Após fazerem isto, despedem-se e se encontram novamente para a refeição…” (Plínio, Ep. 97)
Plínio reforça a sua não crença na divindade de Jesus ao afirmar “a Cristo como se este fosse um deus”; revelando que seu depoimento era uma narrativa de uma testemunha, o que passa grande credibilidade. Também é interessante comparar esta passagem com o livro dos Atos dos Apóstolos (20,7-11), uma narração bíblica sobre a primitiva celebração cristã do domingo.
Plínio ainda afirmou:
“Os que negaram ser cristãos ou tê-lo sido, ou que invocavam os deuses de acordo com a fórmula que eu lhes ditava e faziam sacrifícios mediante o incenso e o vinho diante da sua imagem, que haviam trazido para esse fim as estátuas dos deuses, ou ainda maldiziam Cristo – coisas estas que são impossíveis de conseguir daqueles que são realmente cristãos –, pensei que deveria colocá-los em liberdade. (…) [Os que se diziam cristãos] afirmam que toda a sua culpa ou seu erro se limitava a ter o costume de reunir-se em um dia fixo antes do amanhecer e cantar entre eles, alternativamente, um hino a Cristo, como a um deus…” (Cartas e Panegírico a Trajano: X/96/5-7).
Este texto não afirma a existência de Jesus Cristo, mas a confirma de forma indireta: prova que, de fato, no início do século II, homens e mulheres acreditavam firmemente na sua existência.
Interessante também é o testemunho de um escritor satírico grego: Luciano de Samósata (125-192), que diz de Cristo que “é honrado na Palestina”, pois “foi crucificado depois de introduzir um novo culto entre os homens”; é “o primeiro legislador” dos cristãos, “o sofista crucificado” cujas leis permanecem (“Morte de Peregrinus”, 11-13).
Outro historiador romano, Tácito, reconhecido pelos modernos pesquisadores por sua precisão histórica, escreveu sobre Cristo e sua Igreja:
“O fundador da seita foi Crestus, executado no tempo de Tibério pelo procurador Pôncio Pilatos. Essa superstição perniciosa, controlada por certo tempo, brotou novamente, não apenas em toda a Judéia… mas também em toda a cidade de Roma…” (Tácito, Anais XV,44)
É inegável o desprezo que Tácito revela sobre Jesus, mas mesmo assim (ou até por isso mesmo), seu relato é uma fonte histórica da execução de Jesus, fazendo relação com eventos e líderes romanos (novamente em conformidade com os Evangelhos, como em Lucas 3).
Outros relatos históricos referentes a Jesus também apareceram nas obras de Suetônio, – em sua "Biografia de Cláudio": “Cláudio expulsou os judeus de Roma, que causavam permanentes problemas, devido a um tal Chrestus” (Vida de Cláudio, XXV.11) e “Ele entregou à tortura os cristãos, raça adita a uma superstição nova e culpável” (Vida de Nero, XVI.3).
Suetônio:– Tácito: “O nome 'cristão' vem do nome de Cristo, que foi condenado sob o reinado de Tibério, pelo procurador Pôncio Pilatos” (Anais, 15.44).
Phlegon ou Flégon (que registrou o eclipse do sol durante a morte de Jesus!) e até mesmo Celso, filósofo pagão desconhecido.
Lembremos também do pagão Thallus (ou Thale), um historiador e cronista contemporâneo de Cristo, citado pelo escritor Sexto Júlio Africano (em 220), que fala do eclipse ocorrido no momento da crucifixão de Cristo.
Esses escritores, portanto, apresentam Jesus como personagem real e histórico, incontestavelmente. Plínio, por exemplo, era um perseguidor de cristãos que executava qualquer um que confessasse o Nome de Cristo. Não teria, portanto, nenhum interesse em propagar um mito e a mentira da sua execução e Tácito teria exposto a farsa da idolatria a esse mito e jamais teria associado a sua execução aos poderosos romanos.
O fato da maioria dessas fontes serem laicas, judaicas e anti cristãos e que os escritores não desejavam promover a História de Jesus ou do cristianismo ou que até mesmo desejam denegri-los, é só mais um ponto a favor da historicidade de Cristo. Afinal de contas, quem vai falar mal para que fique na posteridade, de um inimigo inexistente?
Também temos importantes citações de enciclopédias irrepreensíveis e conceituadas:
– Enciclopédia Britânica, 15ª edição, a propósito dos testemunhos independentes sobre Jesus: “Estes relatos independentes mostram que, desde os primeiros tempos, nem sequer os adversários do cristianismo duvidaram de que Jesus tenha realmente existido. Foi no final do século XVIII, durante o século XIX e no começo do século XX que a historicidade de Jesus foi questionada pela primeira vez, por motivos insuficientes, por parte de diversos escritores”.
– Grande Enciclopédia Larousse: “Os historiadores sérios são unânimes ao afirmar, sem hesitar, que Jesus realmente existiu” (Vol. 11, p. 6699).
É claro que não temos a intenção de esgotar o assunto com esse texto, muito menos de provar que Jesus existiu apenas baseado nesses artigos. Porém, esses relatos provam que de fato existiu um homem extraordinário que viveu no século I na região da Judeia e que suas palavras e feitos promoveu a formação da maior religião já existente nesse planeta. Esse homem foi chamado de Jesus, O Cristo. Quanto a sua divindade, isto é assunto para outra matéria.
Não é possível negar a importância destas fontes que narram algo sobre o personagem chamado Jesus, já que, por analogia, muitos outros personagens históricos também são considerados reais se utilizando do mesmo método.
Referências isentas em quantidade importante, é mais que suficiente para comprovar a existência de um fato ou personagem, historicamente falando. Porém, sempre que algo se refere a Jesus, a polêmica é levantada, afinal de contas ninguém na História humana incomodou tanto quanto o menino de Nazaré.
Fontes e bibliografia:
• ZUURMOND, Rochus. Procurais o Jesus histórico?, São Paulo: Loyola, 1998
• CROSSAN, John Dominic. The essential Jesus. Pensacola: Castle Books, 1998
• Oxford Dictionary of the Christian Church, v. 'Quest of the Historical Jesus'
• HABERMAS, Gary R.. The historical Jesus. Joplin: College Press, 1996
• SANDERS, E. P. The historical figure of Jesus. London: Penguin, 1993
• EHRMAN, Bart D. Jesus existiu ou não? Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014
www.ofielcatolico.com.br



