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O sacrifício e as cerimônias da consagração

 

Ex 29:1-21 ( Lv 8:1-14 )

1  ISTO é o que lhes hás de fazer, para os santificar, para que me administrem o sacerdócio: Toma um novilho e dois carneiros sem mácula, ... 6  E a mitra porás sobre a sua cabeça; a coroa da santidade porás sobre a mitra. 7  E tomarás o azeite da unção, e o derramarás sobre a sua cabeça; assim o ungirás.... 10  E farás chegar o novilho diante da tenda da congregação, e Arão e seus filhos porão as suas mãos sobre a cabeça do novilho;11  E imolarás o novilho perante o SENHOR, à porta da tenda da congregação. 12  Depois tomarás do sangue do novilho, e o porás com o teu dedo sobre as pontas do altar, e todo o sangue restante derramarás à base do altar. 13  Também tomarás toda a gordura que cobre as entranhas, e o redenho de sobre o fígado, e ambos os rins, e a gordura que houver neles, e queimá-los-ás sobre o altar; 14  Mas a carne do novilho, e a sua pele, e o seu esterco queimarás com fogo fora do arraial; é sacrifício pelo pecado.

 

                     Os sacrifícios eram utilizados em muitas culturas para apaziguar os deuses ferozes e vingativos. Acreditava-se que só oferecendo uma vida, os deuses não enviariam catástrofes para o povo desobediente. As culturas antigas (e algumas ainda hoje) acreditavam que “Deus” queria que eles literalmente derramassem sangue. Porém, isso era feito não só para agradar ao seu deus, mas também por vários outros motivos: para evitar desastres naturais, quando algum rei morria, na criação de um novo templo etc.

                     Os Astecas  praticavam sacrifícios em grande escala, eles eram realizados para que o sol voltasse a nascer ou em homenagem ao templo de Tenochtitlán, entre outros motivos.

                     Os deuses só perdoavam as infrações humanas se houvesse um pagamento, uma oferenda de sangue, daí é que talvez tenha surgido a expressão "bode expiatório", onde um animal que morre justificaria com o seu sangue derramado, o perdão dos pecados de um povo, purificando-o.                          Onde animais não fossem suficientes para o perdão dos pecados, seres humanos eram usados. Os homens teriam que ser puros, inocentes, sem defeitos e não contaminados pelo pecado e as mulheres, jovens e virgens. Para o cristianismo, a morte de Jesus representou o sacrifício supremo e com esse sacrifício todos os pecados da humanidade foram expiados. A purificação só era considerada completa a partir do momento que se ingerissem o sangue ou a carne do sacrifício fosse comida. Como não poderíamos fazer uma correlação entre um cordeiro oferecido em um ritual antigo bíblico com a missa cristã? Nela vemos todos os elementos principais desses antigos rituais em uma roupagem muito mais suave, nada macabra, o cordeiro foi substituído por Jesus, o sangue do sacrifício seria o vinho e sua carne, o pão (a hóstia) e quem se utilizar desses elementos estaria buscando o perdão de seus pecados, a sua redenção. Porém, essa semelhança é apenas estética, a missa cristã não representa a continuidade dos rituais pagãos e judaicos, ela é uma celebração rica em significados onde o alimento é a palavra e a eucaristia (presença viva de Cristo, o verdadeiro mistério da fé cristã). Sendo, então, uma substituição que eliminaria a idolatria cega e serviente pela fé racional e grata ao Deus criador, que é amor. O homem deixaria de ser servo e passaria a ser filho, deixaria de adorar em temor a outros deuses e passaria a amar em gratidão ao verdadeiro Deus.

 

1Co 10:14-18  14  Portanto, meus amados, fugi da idolatria. 15  Falo como a entendidos; julgai vós mesmos o que digo. 16  Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos não é porventura a comunhão do corpo de Cristo? 17  Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. 18  Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar?

 

                       Os sacrifícios no antigo testamento têm presença constante, desde o início com a “oferenda” de Abel, um carneiro e a de Caim, seu próprio irmão substituindo o sacrifício de algum animal. O sacrifício exigido por Javé a Abraão como prova de fé, exigindo o holocausto de seu filho Isaque, o que não ocorre, pois é impedido por um anjo, porém um carneiro é morto em seu lugar.

                       Segundo os muçulmanos, não é o sacrifício cerimonial em si que se relaciona com a adoração ao deus.  (Corão 22:37: “Não é a sua carne, tampouco seu sangue que alcança Alá, mas sim a sua fé que o alcança...”). O sacrifício é feito em recordação ao profeta Abraão, que não se opôs a sacrificar seu próprio filho para provar sua fé ao seu deus.

                      Em muitas passagens é claro o desejo da “divindade” em que seja oferecida a si uma criatura viva em holocausto: Ex 29:18  “18  Assim queimarás todo o carneiro sobre o altar; é um holocausto para o SENHOR, cheiro suave; uma oferta queimada ao SENHOR.”. Não é verdadeira a crença de que o oferecimento de sacrifícios humanos era uma ação do homem e não um desejo do deus de Israel. Temos aqui mais alguns exemplos:

 

Êxodo 22:28-29

28  Não atrase em oferecer de sua abundância e de sua fartura. Entregue a mim o seu filho primogênito;  29  faça o mesmo com seus bois e ovelhas: a cria ficará com sua mãe durante sete dias e, no oitavo, você a entregará para mim. 

 

Juízes 11:30-40

30 E Jefté fez uma promessa a Javé: “Se entregares os amonitas em meu poder, 31 então, quando eu voltar vitorioso da guerra contra eles, a primeira pessoa que sair para me receber na porta de casa, pertencerá a Javé, e eu a oferecerei em holocausto”. 32 Jefté partiu para guerrear contra os amonitas, e Javé os entregou em seu poder. ... 34 Jefté voltou para a sua casa em Masfa. E foi justamente sua filha quem saiu para recebê-lo, dançando ao som de tamborins. Era sua filha única, pois Jefté não tinha outros filhos ou filhas. 35 Logo que viu a filha, Jefté rasgou as vestes, e gritou: “Ai, minha filha, como sou infeliz! Você é a minha desgraça, porque eu fiz uma promessa a Javé e não posso voltar atrás”. 36 Ela respondeu: “Pai, se você fez promessa a Javé, cumpra o que prometeu, porque Javé concedeu a você vingar-se dos inimigos”. 37 E pediu ao pai: “Conceda-me apenas isto: deixe-me andar dois meses pelos montes, chorando com minhas amigas, porque vou morrer virgem”. 38 Jefté lhe disse: “Vá”. E deixou-a andar por dois meses. Ela foi pelos montes com suas amigas, chorando porque ia morrer virgem. 39 Dois meses depois, ela voltou para casa, e seu pai cumpriu a promessa que tinha feito. A moça era virgem. Daí começou um costume em Israel:  40 todos os anos as moças israelitas saem por quatro dias para chorar a filha de Jefté, o galaadita.

 

                      Neste caso, não existiu uma ordem direta de Javé, mas fica claro que era uma coisa natural oferecer sacrifícios humanos; ninguém, nem mesmo à vítima questionava isso. Os homens do SENHOR (Javé) realizavam isso e o SENHOR não os recriminava, pois segundo eles mesmos isso era “agradável ao SENHOR”. Alguns estudiosos da Bíblia afirmam que a filha de Jefté não seria sacrificada, não seria morta, mas passaria a viver enclausurada em um templo servindo a obra do SENHOR (Javé), porém é dito no versículo 31: “31 então, quando eu voltar vitorioso da guerra contra eles, a primeira pessoa que sair para me receber na porta de casa, pertencerá a Javé, e eu a oferecerei em holocausto”.

 

Números 31:40-47

40 dezesseis mil pessoas, das quais foi feito para Javé o tributo de trinta e duas pessoas.  41 Moisés entregou o tributo de Javé ao sacerdote Eleazar, conforme Javé lhe havia ordenado... 47 Dessa metade que pertencia aos filhos de Israel, Moisés tomou um tributo de dois por cento de pessoas e animais e o entregou aos levitas, que tinham funções no santuário de Javé, conforme Javé havia ordenado a Moisés.

 

                       Qual seria o significado da palavra “tributo” nesse contexto? Qual seria a função dos inimigos capturados no templo, onde só entravam os levitas? É bem possível que eles e os animais fossem sacrificados no tal “tributo a Javé”?

 

Ezequiel 39:17-20 ,

17 Tu, pois, ó filho do homem, assim diz o Senhor JEOVÁ: dize às aves de toda a espécie, e a todos os animais do campo: Ajuntai-vos e vinde, vinde, de toda a parte, para o meu sacrifício, que eu sacrifiquei por vós, sacrifício grande nos montes de Israel, e comei carne e bebei sangue. 18 Comereis a carne dos poderosos e bebereis o sangue dos príncipes da terra; dos carneiros, dos cordeiros, e dos bodes, e dos bezerros, todos engordados em Basan. 19 E comereis a gordura até vos fartardes, e bebereis o sangue até vos embebedardes, a gordura e o sangue do meu sacrifício, que sacrifiquei por vós. 20 E vos fartareis à minha mesa, de cavalos e de carros, de valentes e de todos os homens de guerra, diz o Senhor JEOVÁ.

 

                        A realização de rituais macabros onde são oferecidos animais ou humanos para apaziguar supostos monstros ou bestas, de certa forma, é bastante coerente. Diante da ignorância e do grande medo existente em épocas remotas, não se poderia esperar que simples mortais tentassem enfrentá-los. Porém, esse comportamento não se aplica, pelo menos diante de uma lógica atual, a um deus benevolente e amoroso. Como aceitar que se tenha tanto medo de um Deus criador, pai em sua essência, de onde naturalmente se esperaria proteção e amor? Que um povo em seus primórdios culturais alimentasse tal costume ritualístico a um animal monstruoso que em sua faminta destruição levasse o terror da morte ou a algo natural como um vulcão, que com sua lava destruía cidades inteiras, isso seria sim, mais que aceitável. Portanto, em minha opinião, o deus de Israel teria o mesmo comportamento de deuses pagãos que por eles tanto nutria ira, não sendo assim o Deus benevolente da criação, o que se revelaria em detalhes de sua existência material e suas limitações físicas, já analisadas durante este livro. Moisés nos mostrou um ser diferente de Deus a partir do surgimento de Adão, após a criação de Eva e o consequente banimento deles. Essa postura continuará praticamente (mas não totalmente) até os ensinamentos de Jesus, colocados nos quatro evangelhos, onde é resgatada por ele a verdadeira imagem de Deus: todo poderoso, repleto de sabedoria, justiça, amor e infinitos outros valorosos sentimentos.

 

                                                                             Sacrifícios a Moloch, Baal e outros

 

                         É interessante observar que o ato de sacrificar a outros deuses, digamos “concorrentes” do SENHOR (Javé) é tido como heresia ou profanação, provocando o sentimento de ira de Javé, mas o contrário não é visto como errado.

 

Reis 16:3

3 Imitou o comportamento dos reis de Israel e chegou até a sacrificar seu filho no fogo, conforme os costumes abomináveis das nações que Javé tinha expulsado diante dos israelitas.

 

Reis 17:17

17 Sacrificaram no fogo seus filhos e filhas, praticaram a adivinhação e a magia, e se venderam para praticar o mal diante de Javé, provocando a ira dele.

 

Levítico 20:1-3
1 Javé falou a Moisés:2 “Diga aos filhos de Israel: Todo filho de Israel ou imigrante residente em Israel, que entregar um de seus filhos a Moloc, será réu de morte. O povo da terra o apedrejará, 3 e eu me voltarei contra esse homem e o eliminarei do seu povo, pois, entregando um de seus filhos a Moloc, contaminou o meu santuário e profanou o meu santo nome.”

 

Jeremias 7:31
31 Depois construíram os lugares altos de Tofet, no vale de Ben-Enom, para queimar no fogo filhos e filhas, coisa que não mandei e que jamais passou pela minha mente.

 

Jeremias 19:4-5
4 Porque eles me abandonaram e profanaram este lugar, queimando incenso a outros deuses, que vocês não conheciam, nem seus antepassados, nem os reis de Judá. Encheram este lugar com sangue de inocentes,  5 e construíram lugares altos para Baal, para queimar seus filhos no fogo em holocausto a Baal. Uma coisa dessas eu nunca mandei fazer, nem falei, nem me passou pelo pensamento.

 

Ezequiel 16:20-21
20 Você pegou até seus próprios filhos e filhas, que você havia gerado para mim, e os sacrificou, para que essas estátuas os devorassem. Como se as suas prostituições não fossem o bastante,  21 você ainda matou meus filhos, e os entregou para serem queimados em honra dessas estátuas.

 

Salmos 106:37-38
37 Sacrificaram aos demônios seus filhos e suas filhas. 38 Derramaram o sangue inocente, e profanaram a terra com sangue.

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